quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Rosanda Nunes - 3º trabalho de reflexão filosófica

Desde a Antiguidade Grega, a noção de valor, a sua forma de existência e a sua natureza representam problemas filosóficos que ocuparam muitos filósofos. Platão, Max Scheler, Johannes Hessen, Adolf Sánchez Vázquez, entre outros interrogavam-se sobre os valores e os assuntos relacionados com estes. As várias perguntas relacionadas com os valores constituem problemas filosóficos porque são universais, dizem respeito a todos os seres humanos, são intemporais, mantêm a sua importância, o seu valor, a sua pertinência ao longo do tempo, são problemáticos porque não encontramos para eles uma única resposta e definitivamente aceite, como iremos ver seguidamente e são radicais, pois procuram a origem, os fundamentos, a razão de ser de toda a realidade, procuram a origem da natureza humana.
É através dos valores que nós sabemos o que é justo, injusto certo, errado, bom, mau, bonito, feio. Com eles aprendemos aquilo que nos pode fazer felizes, aprendemos o que devemos fazer, quando e como valorizar a vida. São eles que nos mostram todas as formas de beleza.
Devido a eles, a maioria das pessoas são contra qualquer forma de violência, são solidários com os sofredores, com os doentes, com os miseráveis. Isto é justo? Porque é que uns valorizam mais a família, outros o amor, a amizade, a beleza e o dinheiro? Porque é que as pessoas tratam aqueles que amam com carinho, respeito e atenção? Porque é que há indivíduos que valorizam o conhecimento e a educação? São os valores que nos ensinam a não roubar, a não matar, mas parece que nem toda a humanidade aprende, porque será? Porque é que há valores que saem da moda, ou será que nunca saem? Mas afinal o que são os valores, qual é a natureza dos valores, terão uma natureza subjectiva ou objectiva?
Para este problema encontramos duas teses, o subjectivismo axiológico e o objectivismo axiológico. A primeira diz que os valores têm uma natureza subjectiva, isto é, dependem do sujeito para existirem, existem sim na mente humana e a segunda afirma que os valores são objectivos, existem independentemente do Homem. Têm uma existência exterior a mente humana. Todavia isto não é tão fácil como nos parece.
Do ponto de vista do subjectivismo encontramos duas definições para valor, o psicologismo e o emotivismo, pondo de parte o emotivismo, o psicologismo diz que o valor é uma vivência pessoal. Podemos considerar isso verdade já que diferentes pessoas atribuem a uma mesma coisa diferentes valores, contudo se os valores só existem subjectivamente, como é que se explica que os mesmos valores sejam encontrados em diferentes épocas históricas e em diferentes povos que nem sequer comunicaram entre si? E se o valor só existe enquanto vivência de uma pessoa, como é que se justifica a comunicação, a partilha e o consenso de opiniões valorativas?
Dentro do objectivismo axiológico encontramos duas definições para o conceito valor: o Naturalismo e o Ontologismo. O Naturalismo afirma que os valores são qualidades das coisas. Podemos concordar com a veracidade desta definição já que quando atribuímos um valor a qualquer facto, acreditamos que ele realmente possui esse valor e esta crença justifica o consenso que encontramos em tantas valorações. Por exemplo nós achamos a escravatura uma prática injusta e nós falamos como se o valor estivesse no facto, por exemplo num diálogo nós constantemente comentamos: -“Não vês que aquilo é injusto”.
Porém, se os valores são qualidades objectivas porque é que não conseguimos observá-los e como é que se fundamenta os desentendimentos entre as pessoas quanto à valoração de um mesmo facto?
O Ontologismo afirma que os valores são ideias que existem independentemente do sujeito humano e das coisas em geral, são seres ideais que existem por si mesmo. Deste ponto de vista, os valores são essências imateriais, intemporais e imutáveis. Platão foi o representante mais antigo desta perspectiva, dizendo que são ideias perfeitas e absolutas.
Uma vez que a experiência sensorial não pode dar-nos a conhecer os valores e uma vez que todos os seres humanos têm na sua mente conceitos correspondentes a valores, isto leva-nos a imaginar a existência de um mundo imaterial onde as ideias existem de forma independente e onde a nossa alma, sendo ela imaterial e imortal contemplou, por exemplo, o bem em si. Assim, ao encarnar num corpo recorda as ideias de valores que conheceu anteriormente, mas de uma forma confusa, justificando as divergências de valoração que encontramos.
Em contrapartida, não conseguimos provar a existência de um mundo das ideias, nem que a alma é imortal.
Devido à problematicidade dos valores surgiu uma outra tese axiológica, o Relativismo que afirma que os valores são intersubjectivos, ou seja entre sujeitos. Desta forma eles apresentam uma natureza social, dependem da existência do ser humano como sociedade. Segundo a tese relativista, o valor não é pessoal nem objectivo. O valor é uma apreciação histórica, cultural e social, é algo partilhado entre indivíduos e está condicionado pelo espaço sociocultural e pelo tempo histórico em que o homem se encontra.
Por exemplo, o ser caro ou barato depende muito de contextos histórico-culturais. Para uma pessoa de classe baixa a roupa de marca é cara, mas para uma pessoa de classe alta a roupa de marca é relativamente barata.
Apesar disto o relativismo não soluciona o problema. Apresenta-nos os valores como consequência de uma sociedade e da sua época histórica, mas não explica a universalidade de alguns valores, que permanecem ao longo da história e que são transversais a diversas culturas.
Concluindo, não existe uma definição única, como vimos anteriormente, elas contradizem-se. Há argumentos, mas também há contra-argumentos, estes que negam as teses. Não conseguimos ter a certeza da natureza e definição de valor, os contra-argumentos negam. Ficamos perplexos, já que o problema dos valores não é resolvido. O problema permanece, não há uma resposta definitivamente aceite. No final temos que admitir que não sabemos. Por isso, temos que reconhecer a nossa ignorância sobre um assunto que está tão presente em nós. Mas afinal, o reconhecimento da nossa própria ignorância é o caminho para o conhecimento e o início da sabedoria.

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